Ser mulher em Mafra
… e não ser celebrada
Inicio hoje a árdua e honrosa tarefa de assinar uma opinião política que me represente e ao partido em que milito: o Partido Socialista. Antes de mais, espero corresponder à expetativa do Jornal de Mafra e que os leitores se revejam nas causas que defendo.
Começo por vos escrever sobre o que sou: uma mulher em Mafra.
Na passada semana, a 8 de março, celebrou-se o Dia Internacional da Mulher. A data foi assinalada por todo o país mas o município de Mafra foi exceção (faz lembrar as comemorações de Abril), o que me remete para uma reflexão sobre o que é ser mulher em Mafra.
Ser mulher em Mafra é ser tudo e ser tão pouco: o nosso concelho tem uma dimensão rural muito acentuada, onde é difícil mudar mentalidades e práticas há muito enraizadas. Em Mafra, realidades como o chefe de família, a dona de casa que não pôde ser mais, mulheres que não puderam prosseguir os estudos porque “não precisam disso” ou “é muito longe de casa”, que não tiraram a carta de condução porque só vão se o marido for, que são olhadas de lado porque se divorciaram ou são mães solteiras, criticadas porque ainda não casaram ou vão no segundo namorado, porque não se interessam por homens, ou por homens sérios e de boas famílias, que não vão à Igreja, que não chegam do trabalho a tempo de fazer o jantar – nota: escrevo em 2019 -, são realidades que existem e que temos o dever de combater. A emancipação da mulher não é uma realidade absoluta em Mafra, tanto menos completa quanto mais nos afastamos do eixo urbano.
Cabe-nos elogiar e incentivar todas as mulheres que, nascendo em localidades fora do eixo urbano do concelho, têm hoje cargos de poder, gerem as suas famílias sozinhas ou a par com o parceiro que escolheram, tão bem quanto gerem os seus negócios, assumem livremente as suas escolhas sexuais, praticam a religião que querem, se querem, têm força associativa, fazem parte de órgãos políticos, encabeçam projetos, têm pensamento crítico e liberdade de expressão.
Já somos muitas, mas ainda somos poucas.